FORCON
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Conhecemos uma pessoa que se veste assim ou assado e já colocamos uma série de conceitos sobre ela. Quando vamos conhecendo-a melhor, vemos que não era nada do que tínhamos pensado. Podemos afirmar com convicção que quem vê cara não vê coração. Ou que não se pode medir um livro pela capa. Certo?
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3
Certa vez uma editora ia relançar um livro de um poeta já conhecido e de qualidade “não questionável”. O editor chefe pediu para cada designer trazer uma proposta para a capa. Uma amiga me contou, sem muito entusiasmo, que a capa dela havia sido escolhida; perguntei o porquê do desanimo: tinha gostado muito mais da capa de um outro colega de trabalho que era muito mais ousada e criativa. Minha colega só tinha colocado a cara do poeta com um fundo azul, coisa que o editor chefe já tinha dito que agradaria. Considerando que essa seja uma capa ruim para um grande livro, podemos reafirmar: quem vê capa não vê conteúdo. Entretanto, essa capa pode não dizer a respeito do conteúdo do poeta, mas diz respeito aos modos de produção pelo qual passa um livro.
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1
Pobre do ator que quer ser criativo no palco e é medíocre em vida.

Nós não somos seres engavetados.

A forma como fazemos é o conteúdo que trazemos.
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4
Lemos livros fantásticos de como deveriam ser as escolas, principalmente no que tange a questão do conteúdo: interdisciplinaridade, conteúdos transversais, uma escola que possibilite a experiência, a formação do conhecimento, mais do que um simples engavetar do conhecimento, um professor que seja mais um guia desses caminhos do que um simples falador. Mas isso é possível se a própria escola é uma grande cômoda? Como fazer para não ser conteúdista se no fim do terceiro ano o aluno (sem luz) vai enfrentar uma prova que vai medir pura e simplesmente seus conteúdos? Como viver uma experiência em uma aula que tem no máximo 50 minutos? É possível um professor de biologia provocar os alunos na construção de uma horta e daí guiá-los para os conhecimentos ecológicos e biológicos nas estruturas de tempo e espaço que a escola tem atualmente? É possível prestar atenção em cada aluno e ouvi-los se em cada sala tenho 45 vidas? De nada adianta continuar escrevendo livros sobre pedagogia sem discutir a forma dessa escola, sem rediscutir as disciplinas de pura informação, os horários de gavetinha, o grande cadeião que se tornou a nossa escola, com professores formados em nossos shoppings educativos, preparados para o mercado de trabalho e preparando para as feiras de oportunidades.
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6
Quem quer mudar o mundo precisa lavar a sua louça. Como você vai propor uma nova forma de reorganizar o mundo se dentro da sua casa você mantém os padrões de organização tradicional?
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8
Os conhecimentos estão organizados (ou desorganizados) dentro de estruturas intelectuais que vamos formando com o passar dos anos. Cada vez que um conhecimento novo chega, outro vai te que sair, ou algum vai ter que mudar de lugar, uma nova forma de organização da estrutura intelectual terá que ser proposta.
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2
Uma obra de arte experimental provoca o expectador sensível a mudar suas estruturas de conhecimentos: a repensar. Novos conteúdos exigem novas formas: em todas as esferas da vida.
Pois podemos
ser
seres plenos.
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5
Eu sou...

...o alimento que como, as roupas que visto, a arte que faço, o que compartilho, a forma como organizo a minha casa, o sexo que faço...

...e todas as contradições pertencentes ao ser pleno.

“Não há conteúdo revolucionário sem forma revolucionária” – V. Maiakovski
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Valéria Rocha