O boneco na Escola Governador Mário Covas: a experiência

O teatro de bonecos é uma espécie de divertimento popular que consiste em representações dramáticas, por meio de bonecos, que podem representar personalidades. Neste tipo de teatro, os bonecos ganham características que são valorizadas exageradamente e em certos casos, os personagens ganham como sobrenome essas características como, por exemplo, João Chorão.
Este tipo de teatro envolve o conhecimento de culturas e personalidades principalmente do Nordeste, oferecendo ás crianças à oportunidade de viajar pelo Brasil usando a imaginação. Além disso, o projeto tem como objetivo o despertar para uma conscientização dos educandos sobre a reciclagem, permitindo que estes sejam multiplicadores desses conhecimentos.
Proporcionar e estimular que as crianças criem e recriem, transformem objetos simples do uso cotidiano em obras de arte - e neste caso, em bonecos - é uma meta.
A autonomia é parte do projeto. As crianças desde o início são estimuladas a conhecer e manusear os materiais sem uma "ordem" do professor, permitindo que uma relação de confiança se estabeleça nas aulas. Aprendem a questionar refletir e para tanto, estar atento às explicações e depois, se utilizar delas para construir o boneco é fundamental. Ter a responsabilidade de utilizar os materiais da melhor maneira possível é conquista deste trabalho.

O boneco na escola Gov. Mario Covas: a experiência.

A escola Governador Mário Covas tem sua comunidade formada também por imigrantes nordestinos e assim, muitas crianças têm em sua rotina, costumes desta região.A unidade escolar está localizada no bairro de Itaquera, próximo ao Conjunto Habitacional José Bonifácio, extremo da zona leste de São Paulo. O acesso é dificultado para quem não reside no bairro e também para os moradores que necessitam se locomover para o centro ou mesmo para bairros próximos.Nesta localização, a locomoção das crianças para museus e espaços culturais localizados no centro da cidade é bastante dificultada. O SESC Itaquera e o Parque do Carmo são duas opções de lazer e cultura para a população local e ainda assim, o transporte é precário, e as vezes insuficiente. E é desta forma que os educadores se tornam peças essenciais na formação artística dessas crianças, trocando experiências com elas. A comunidade é predominantemente de baixa renda, freqüentando a escola como espaço de formação e de possível ascensão social.
A proposta de desenvolver durante as aulas de Artes, um projeto sobre Teatro de Mamulengo partiu de alguns pontos como: a integração das linguagens artísticas através do teatro, e ainda havia a possibilidade de também dar enfoque á reciclagem, uma vez que nossos bonecos seriam feitos de garrafa pet. Fiz a proposta às salas de 4ª séries do ensino Fundamental I e os alunos aceitaram fato de suma importância no início do trabalho na escola em 2008, prevalecendo o diálogo. Proposta aceita, iniciamos nosso trabalho.
Primeiro passo: apresentar o teatro e o boneco, coisas tão novas ao cotidiano dessas crianças especialmente na questão artística. E claro, o trabalho coletivo, já que é impossível pensar em teatro sem pensar que ele é coletivo.As próximas etapas exigiram o trabalho em casa, recolhendo garrafas para serem transformadas em bonecos. Foi difícil conseguir que todas as crianças trouxessem as garrafas e para que o nosso trabalho não fosse prejudicado, o auxílio das professoras e funcionários da escola foi fundamental, recolhendo garrafas.
Nesse tempo, as aulas se pautaram na construção de personagens, através de um questionário contendo informações que auxiliariam na formação do boneco como: nome, idade, profissão e etc. E também jogos teatrais... Em grupos.
Para que uma peça tenha sucesso, ela precisa de um cenário e no caso do teatro de mamulengo, é preciso ainda uma banda que faça interação com a platéia. Aí enfrentamos um obstáculo: como fazer com que as crianças se interessem sem pressioná-las para realizar uma tarefa. Pensamos então que seria uma boa idéia que todos construíssem os bonecos e depois desta etapa, cada criança ficaria a vontade para escolher como seria sua participação neste trabalho, se seria encenando a peça, confeccionando o cenário ou ainda como músico da banda.
Conseguimos as garrafas!Vai começar o trabalho prático!
Assim como a garrafa que pode ser reciclada, recolhemos jornal que já havia sido lido para compor nosso trabalho. A garrafa vai ganhando forma com uma bola de jornal que vira o olho esquerdo, depois outra bola e temos o olho direito, e assim, até completarmos o rosto.
"É agora que a gente vai pintar?"
A ansiedade é fator a ser – muito – levado em conta. Foi difícil para as crianças tentar, a principio, imaginar que uma garrafa de água pudesse virar um boneco. E aconteceu! O jornal cortado em pedaços e misturado com cola e água, ganha resistência e deixa as garrafas fortes.
Durante muitas aulas nosso boneco foi tomando forma de "gente", sem pressa, apesar do tempo curto, pois não queríamos que os bonecos desmontassem no fim do projeto ou até mesmo no meio da apresentação...
Para que tudo isso fizesse sentido ás crianças e lhe proporcionassem prazer em realizar este trabalho, o diálogo e o acordo entre educador e educandos desde a proposta, no início do ano, até esta etapa foi de extrema importância. Nenhuma criança se interessa pelo que não conhece ou mesmo por algo que não se faz necessária sua participação nas decisões.
O projeto está em desenvolvimento. Uma sala está finalizando o que chamamos de "última pele", que é encobrir o jornal com papel Kraft ou mesmo papel de pão e a outra sala está na pintura dos bonecos.
Em seguida vamos iniciar as técnicas de manipulação dos bonecos e construção da história a ser apresentada, através de jogos que estimulem a criatividade e improvisação bem como a construção narrativa de uma história, com começo, meio e fim. Paralelamente, as crianças que optaram por construir e confeccionar o cenário e a trilha sonora estarão concentrados nas suas atividades. É importante ressaltar que as crianças ficam livres para escolher como farão parte desse trabalho e que apesar de cada uma ter sua atividade, elas precisam estar em sintonia, ou seja, é preciso um diálogo continuo e um caminhar em conjunto. Não fará sentido se uma história é contada, mas a música e o cenário não se relacionam com ela. A integração das linguagens se faz aí mais presente e concreta.
Nosso trabalho será finalizado com uma apresentação do teatro preparado, conhecido, envolvido e construído pelas crianças.


Thaís Borelli Mamprin

1 comentários:

Anônimo

Este trabalho foi aprovado no COngresso NAcional de Arte Educação em 2008.