Pra começo de conversa

Em 2005 entrei na faculdade de Filosofia. Logo tratei de me aproximar daquilo que me parecia o caminho de maior participação social que eu poderia ter: a educação. Manifestei interesse para um colega de classe – um frei! – e fui convidado a dar aulas de alfabetização – numa igreja! - para jovens e adultos. Ser educador, naquele momento, me parecia o trabalho mais político que um intelectual poderia realizar e pensei, dentro de minha utopia, que aquele professor que fazia seu trabalho sem entusiasmo ou apenas por obrigação mercadológica, era o pior traidor da classe . Em outra oportunidade escrevo uma crônica sobre isso.

Pois bem, apareci diante de um seleto grupo de sete alunos; foram escolhidos entre os “atrasados”, formando uma turma extra. Com minha didática fictícia (em potencial, somos todos educadores; em ato, isto é bem discutível), passei o que eu sabia sobre as primeiras letras e o que eu quase não sabia sobre os números. Quase nada foi conseguindo nesta relação. Precisava de ajuda teórica, já que eu não confiava na prática que via nos meus colegas de trabalho. Foi quando fui atrás do autor que conhecia apenas de nome: Paulo Freire e sua obra fundamental, a Pedagogia do Oprimido. Ali encontrei algo que dialogava com o que eu pensava sobre a educação, principalmente com aquele grupo específico. Durante seis meses usei de teatro, jogos, conhecimentos e experiências dos educandos. As aulas chamavam a atenção das outras turmas, que também desejavam participar. Gostaria de dizer que aconteceu como naqueles filmes de professores que revolucionam uma escola inteira, mas não foi bem isso. Ao fim do semestre alunos saíram, outros entraram no meio do caminho. Alguns aprenderam a ler e a escrever.

Por falta de recursos financeiros (o trabalho era voluntário) precisei deixar as aulas. E a faculdade. Voltei em 2007 ao curso de Filosofia. No 3º semestre encontro a aula de Filosofia da Educação. O professor, um apaixonado pela área. Talvez paixão não seja a palavra, mas fica assim mesmo. Ele volta ao assunto Paulo Freire. Mas desta vez, o livro utilizado é Pedagogia da Autonomia, considerado uma síntese de todo o pensamento do grande educador. Ao mesmo tempo em que o lia, trabalhava no registro das experiências do NIS, revendo o roteiro das atividades que realizamos em 2006. Enquanto revejo as fotos, tudo parece fazer uma ligação: a atividade da caça ao tesouro parecia com o que o livro descrevia sobre a luta contra a inexorabilidade da História. A educação feita na praça em forma de jogo era a exigência de alegria para a educação, etc, etc.

Enfim, Paulo Freire aparecia para minhas idéias como conceituaização de uma ação que nosso grupo já vinha realizando. Tratei de colocar isso no papel, fazendo assim o trabalho que a faculdade me exigia, e refletindo sobre o trabalho do Insólita. Este artigo foi apresentado no último congresso Paulo Freire.

Para ler o artigo apresentado no evento na integra clique aqui.

Tadeu Renato

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