Relato pessoal de uma experiência freiriana

Falar de Paulo Freire, relembrar aquele domingo na praça (1), ver educadores que conseguem realizar um trabalho libertador da a sensação de que as coisas ainda são possíveis. Imagináveis, sonháveis, utópicas, arautópicas. Claro que nem tudo é um mar de rosas, pelo contrário, está mais para um mar de bostas. Mas ter utopias nos faz andar. E caminhar sem dúvida é melhor do que ficar parado, congelado no tempo.

Então, o texto a seguir é o que eu, Valéria, integrante apaixonada do NIS, entendi desses dias de fórum. Quem quiser saber mais sobre o fórum Paulo Freire entre no site:
www.forumpaulofreire.org vale a pena.

Me chama atenção o quanto somos oprimido-opressores, repenso minha prática, das vezes que sou opressora, das vezes que sou oprimida. Penso no meu opressor introjetado, quando já recebemos tanto NÃO que a presença física do opressor já não se faz mais necessária, por que você mesmo, seu inconsciente, ego, não sei direito, já lhe dá a ordem, te oprime, já te explica o que não se deve fazer. E não se deve fazer, não porque se tenha uma razão racional ou afetiva, mas simplesmente porque NÃO.

Quantas vezes, quando chegamos a uma comunidade para lecionar ou para visitar, não temos o olhar do colonizador, vemos do ponto de vista da nossa cultura e a partir daí julgamos a cultura do outro. Determinada música é ruim, esse jeito de se vestir é vulgar, tal religião é inocente. Temos que ter olhos sensíveis para o diferente, fazer com que aquela comunidade pense sobre sua cultura e repensar a nossa.

Foi dito também no fórum que muitas vezes nos vemos pelo olhar do opressor e que muitas vezes pegamos esse olhar como verdade (afinal ele é a autoridade e sabe do que está falando). Eu aprendi na escola que os índios não foram escravizados porque eram preguiçosos. Será? Como é que o Tadeu (2)
, que é neto de índio, se sente? Preguiçoso? Não querer ficar trabalhando para outros, pois a natureza já me dá tudo e como escravo não ganho nada, é preguiça? Fora aquela questão que a Inglaterra lucrava horrores com a escravidão e trafico dos africanos. Pois é, mas eu aprendi na escola que os índios eram preguiçosos.

O mesmo Tadeu sempre conta que um dia a professora de artes perguntou para ele se ele era bobo, e que para artes ele não levava jeito. Já pensou se ele leva a professora a sério?


(1) Vide artigo tal nesse blog.
(2) O autor do artigo já citado. E meu namorado.

VALÉRIA ROCHA

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